segunda-feira, 14 de março de 2016

A Importância do Diagnóstico Precoce na Deficiência Auditiva

A Importância do Diagnóstico Precoce na Deficiência Auditiva


Algumas orientações são importantes para os profissionais da área da fonoaudiologia que têm contato com crianças e pais, onde haja suspeita ou confirmação de uma Deficiência Auditiva. Os deficientes auditivos e os profissionais que trabalham nesta área sabem da importância deste déficit sensorial no comportamento do indivíduo, pois a criança com deficiência auditiva, pela impossibilidade de se comunicar, pode tornar-se um indivíduo introvertido, com problemas de origem nervosa, e acaba isolando-se do mundo que a rodeia por não compreender e não ser compreendida.É essencial que a criança, ao nascer, tenha audição normal para a aquisição da fala durante seu desenvolvimento. Observando uma criança pequena em fase de aquisição de suas funções, podemos nos maravilhar ao perceber que é através da linguagem que ela consegue organizar o seu universo, entender o mundo que a rodeia, compreender o outro, transmitir e abstrair pensamentos e sentimentos do outro, interagir no meio e adquirir conhecimento. O que é importante saber é que o deficiente auditivo quase sempre apresenta resíduos auditivos, especialmente para as frequências graves, que uma vez detectados precocemente poderão ser aproveitados com o uso de AASI. Com o AASI, o deficiente deverá passar por um processo de treinamento para compensar uma perda quantitativa e qualitativa de sua audição. Esta estimulação auditiva, com ou sem AASI, deve ser iniciada precocemente, se possível no primeiro ano de vida. Um dos grandes problemas para este diagnóstico precoce da D.A e a consequente estimulação auditiva precoce é que as crianças chegam aos Fonoaudiólogos muitas vezes com idades de 3 a 6 anos, tendo já passado daquela importante fase de maturação dos processos auditivos, tornando todo o processo de reabilitação mais difícil. Marcas observáveis nos primeiros meses de vida na criança D.A. Um pequeno bebê, ao nascer, sobrevive, pois há um ser saudável e amadurecido que cuida, nutre, atende a suas necessidades até se tornar independente. Este ser é a mãe. A mãe conversa, verbaliza tudo o que faz com seu filho na rotina dos primeiros meses de vida: amamentação, troca de fralda, contato com os primeiros brinquedos, sons da casa, etc.O bebê por sua vez, produz sons, chora e murmura de forma distinta quando tem fome, está desconfortável, tem dor, tem sono ou quando acorda. A mãe identificando cada um destes sons e atende o bebê.Porém, para que este processo ocorra normalmente, o bebê necessita ouvir a voz materna. Os bebês identificam e reconhecem a voz materna, até gravada ou distorcida, neste período.Esta voz tem o poder de antecipar a presença materna, saciar fome, sede e significa ainda aconchego e segurança. Imagine um bebezinho que acorda, chora de fome e pelos sons produzidos pela mãe na casa e sua voz, quando vai se aproximando do bebê, este já se acalma e para de chorar, mesmo antes de vê-la. Aos 6 meses, o bebê percebe que ouve sua própria voz, tem prazer em produzir sons e ouvi-los. É o início do uso do feedback acústico-articulatório que vai marcar o início do balbucio, balbucio este que vai se diferenciando, tornando-se mais e mais rico, silábico até ao redor dos 12 meses, este ser tão pequeno, por ter compreendido a linguagem materna e pelo fato de se ouvir vai iniciar a produção de suas primeiras palavras. Este processo do desenvolvimento da criança ouvinte não vai ocorrer da mesma forma com a criança deficiente auditíva. A mãe vai agir da mesma maneira, pois na maioria das vezes não sabe, que seu bebê ao nascer não ouve. E este por não perceber os sons da mãe, suas marcas no ambiente e sua voz, só tem a sensação de ter a mãe, quando esta está no seu campo visual. Não antecipa a presença materna e quando esta se afasta, não tem a noção de que a mãe voltará. É uma criança que vai demorar um tempo maior para incorporar a “mãe interna”, que é um pré-requisito importante para o início da formação da identidade. Pesquisas foram feitas estudando-se o comportamento destas crianças deficientes auditivas. E os relatos dos pais coincidem com os estudos que mostram que estes bebês, por terem a mãe só quando é possível vê-la, têm uma sensação de descontinuidade materna e quando a mãe se ausenta, de abandono precoce. São bebês classificados em dois grupos:  Os que choram muito, como forma de ter a mãe mais vezes perto e os que se deprimem e dormem muito. Este fenômeno é claramente observável e é um forte indício para que o diagnóstico seja feito mais cedo e os pais possam ser devidamente orientados para que voz e marcas na casa se tornem mais intensas de modo que o bebê possa perceber e sentir a presença materna. Outra marca visível e que os pais sempre percebem é a ausência ou pobreza do balbucio. É importante ouvi-los e mostrar os caminhos. Indo mais além, é fundamental pensar em prevenção. Prevenção ligada à atitude materna. A mãe que tem um bebê D.A e desconhece o fato nos primeiros meses de vida, age como qualquer outra mãe, estimulando e conversando com o bebê. À medida que os meses passam, o bebê não responde como outros: pelo sorriso, não acorda com sons e quase não emite sons; a mãe vai notando que há algo de errado. Gradativamente sem perceber vai parando de conversar com seu filho, pois não há troca.Este algo errado é confirmado, quando o Diagnóstico de uma Deficiência Auditiva é feito pelo especialista. E, quando se fala em Diagnóstico Precoce, este só tem validade se imediatamente tiver início o processo ou programa de reabilitação. Não há tempo a perder. E o primeiro passo, que pode ser considerado preventivo é ajudar e encorajar à mãe para que recupere a atitude de mãe estimulante, da mãe que conversa com seu filho, aquilo que ela faz melhor do que ninguém, levando-a a entender que este é o caminho de um desenvolvimento e de diminuição na defasagem de seu bebê, quando comparado com crianças ouvintes de mesma idade cronológica. É papel dos profissionais explicar à mãe que o bebê não vai responder a seus estímulos imediatamente, mas acumulando e armazenando o que recebe; aos poucos dará sinais de compreender e ouvir. Esclarecer de forma compreensível aos pais o que é compreender e ouvir dentro do contexto rico, que é a rotina da vida da criança pequena e sua mãe.Lembrar que é na repetição e verbalização constantes desta rotina que o bebê aprende seu dia e se organizar. O fato de aprender já está ligado à cognição, pois as raízes do que pode ser considerado pedagógico estão no início da vida. No ato de ser alimentado, ser trocado, banhado, numa atmosfera onde tudo é explicado e verbalizado pela mãe, o bebê absorve e aos poucos vai ser capaz de antecipar o que vai acontecer e consegue ficar mais tempo afastado da mãe sem angústia. Nesta fase descobre os brinquedos, os primeiros que manipula enquanto está no berço. Surgem os brinquedos preferidos, aqueles que o bebê conserva até para adormecer e carrega consigo onde vai. Esta é uma etapa importante no desenvolvimento e tem que ocorrer natural ou terapeuticamente. Esta é a razão de investir numa ampla formação na área de desenvolvimento infantil. O brinquedo e o brincar têm uma função e são pré-requisitos para que uma criança atinja outras etapas, nesta primeira etapa, para as crianças que não ouvem, o objeto lúdico (brinquedo) cumpre também o papel de auxiliar na construção dos códigos que não podem ser ouvidos. Com o brinquedo, o bebê organiza-se, na ausência da mãe, atribuindo significado a essa ausência.Os profissionais devem contribuir para a construção, neste processo. A organização destas informações para a mãe possibilita que esta dupla mãe/filho construam um caminho de cumplicidade na compreensão da necessidade de cada um. E se bem instrumentada por profissionais, a mãe mesmo frente ao impacto da deficiência auditiva, aos poucos, vai agir com tranquilidade. Para concluir: “Uma palavra sem significado é um som vazio. Significado é um ato do pensamento semântico. Assim sendo, a falta de tudo isto constitui um mundo vazio.” (VYGOTSKY, 1934).
“Qualquer coisa que façamos, é necessário ter em mente, que quando testamos e tratamos uma criança pequena com deficiência auditiva, nós também estamos lidando com os pais, seus sonhos por seu filho e, mais além, o que fazemos tem um impacto que transcende tempo e lugar. São as crianças e suas famílias que precisam viver com as consequências de nossas ações precoces” (ROSS MARK, 1992).

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